Os distúrbios menstruais são uma causa comum de consultas ginecológicas e podem ser bastante debilitantes para muitas mulheres. Eles variam amplamente em sua apresentação e impacto, afetando desde o ciclo menstrual até a qualidade de vida das pacientes. O reconhecimento e o tratamento adequado desses distúrbios são fundamentais para restaurar o bem-estar físico e emocional das mulheres afetadas. Este artigo irá abordar a avaliação dos distúrbios menstruais, as causas subjacentes mais comuns, os métodos de diagnóstico e as opções terapêuticas disponíveis para o manejo dessas condições.
O Ciclo Menstrual Normal e Suas Alterações
Para entender adequadamente os distúrbios menstruais, é essencial conhecer o ciclo menstrual normal. O ciclo menstrual típico dura entre 24 e 38 dias, com uma média de 28 dias. Ele é regulado por um intrincado sistema hormonal envolvendo o hipotálamo, a hipófise, os ovários e o útero. O ciclo pode ser dividido em duas fases principais: a fase folicular e a fase lútea.
A fase folicular começa no primeiro dia da menstruação e é caracterizada pelo crescimento dos folículos ovarianos e pela produção crescente de estrogênio. Esse aumento de estrogênio estimula o espessamento do endométrio (camada interna do útero), preparando-o para uma possível implantação de um embrião. A ovulação ocorre por volta do 14º dia do ciclo, quando o folículo dominante libera um óvulo.
A fase lútea começa após a ovulação e é marcada pela produção de progesterona pelo corpo lúteo, uma estrutura formada a partir do folículo rompido. A progesterona estabiliza o endométrio, permitindo a implantação do embrião, caso ocorra a fecundação. Se a fecundação não acontecer, o corpo lúteo degenera, levando a uma queda nos níveis de progesterona e estrogênio, o que provoca a descamação do endométrio e o início de uma nova menstruação.
Alterações nesse ciclo, seja na duração, no fluxo ou na regularidade, podem indicar a presença de um distúrbio menstrual. As causas dessas alterações são diversas e incluem condições hormonais, anatômicas e sistêmicas.
Principais Distúrbios Menstruais
Os distúrbios menstruais podem ser classificados em diferentes categorias, de acordo com o tipo de alteração no ciclo. A seguir, serão descritos os principais tipos de distúrbios menstruais.
Amenorreia
A amenorreia é definida como a ausência de menstruação. Ela pode ser classificada como primária ou secundária. A amenorreia primária ocorre quando uma mulher nunca teve uma menstruação, enquanto a amenorreia secundária é a interrupção das menstruações por três ciclos consecutivos ou mais em mulheres que já menstruaram anteriormente.
As causas da amenorreia primária incluem anomalias congênitas do trato reprodutivo, como agenesia mulleriana ou a síndrome de Turner, uma condição genética caracterizada pela presença de apenas um cromossomo X funcional. Outras causas incluem distúrbios hormonais, como a síndrome dos ovários policísticos (SOP) e disfunções hipotalâmicas.
Já a amenorreia secundária é frequentemente causada por distúrbios hormonais, como a disfunção hipotalâmica, que pode resultar de estresse, perda excessiva de peso ou exercício físico intenso. Outras causas incluem a menopausa precoce, a síndrome de Asherman (aderências intrauterinas) e condições como o hipotireoidismo.
Oligomenorreia
A oligomenorreia refere-se a ciclos menstruais infrequentes, com intervalos maiores que 38 dias entre as menstruações, mas menores que três meses. A causa mais comum de oligomenorreia é a SOP, um distúrbio endócrino caracterizado pela presença de múltiplos pequenos cistos nos ovários, desequilíbrio hormonal e irregularidades menstruais. Outras causas incluem disfunções hormonais, como hiperprolactinemia e disfunções tireoidianas.
Polimenorreia
A polimenorreia é definida como ciclos menstruais frequentes, com intervalos menores que 24 dias entre as menstruações. Essa condição pode ser resultado de anovulação, em que os ciclos são irregulares e sem a liberação de um óvulo. Também pode ocorrer em situações de desregulação hormonal, como na perimenopausa, fase de transição que precede a menopausa.
Menorragia
A menorragia, também chamada de hipermenorreia, é o fluxo menstrual excessivo, tanto em volume quanto em duração. Mulheres com menorragia apresentam períodos que duram mais de 7 dias ou perdem mais de 80 mL de sangue por ciclo. As causas podem ser diversas, incluindo miomas uterinos, pólipos endometriais, adenomiose (invasão do endométrio na musculatura do útero) e distúrbios de coagulação. O uso de dispositivos intrauterinos (DIUs) não hormonais também pode estar associado à menorragia.
Metrorragia
A metrorragia é o sangramento uterino irregular, fora do período menstrual esperado. Pode ocorrer devido a uma série de fatores, como infecções genitais, cânceres ginecológicos (como câncer de endométrio ou câncer cervical), pólipos ou hiperplasia endometrial. Mulheres que utilizam terapia hormonal ou anticoncepcionais também podem experimentar metrorragia como efeito colateral.
Dismenorreia
A dismenorreia é caracterizada por dor menstrual intensa. Ela pode ser classificada como primária, quando não há uma causa subjacente identificável, ou secundária, quando é causada por uma condição subjacente, como endometriose ou adenomiose. A dismenorreia primária é comum em adolescentes e mulheres jovens e está relacionada à produção excessiva de prostaglandinas, substâncias que provocam contrações uterinas dolorosas.
Avaliação dos Distúrbios Menstruais
A avaliação dos distúrbios menstruais começa com uma história clínica detalhada e um exame físico minucioso. É importante investigar o padrão do ciclo menstrual, incluindo a duração, a regularidade, o volume do fluxo e a presença de sintomas associados, como dor ou sangramento entre os ciclos. Também devem ser avaliados fatores como o uso de medicamentos, métodos contraceptivos e o histórico reprodutivo.
O exame físico deve incluir uma avaliação pélvica para identificar anormalidades anatômicas, como miomas ou massas ovarianas, e sinais de infecção. Exames laboratoriais também podem ser necessários para avaliar os níveis hormonais, como a dosagem de hormônio folículo-estimulante (FSH), hormônio luteinizante (LH), prolactina e hormônios tireoidianos. Exames de imagem, como ultrassonografia pélvica ou ressonância magnética, podem ser úteis para detectar anormalidades estruturais, como miomas, pólipos ou adenomiose.
Exames Comuns Utilizados na Avaliação
- Ultrassonografia pélvica: método não invasivo que ajuda a identificar alterações anatômicas, como miomas, cistos ovarianos ou espessamento endometrial.
- Exames hormonais: avaliação dos níveis de FSH, LH, estradiol, prolactina, hormônios tireoidianos e testosterona, dependendo do quadro clínico da paciente.
- Histeroscopia: procedimento que permite a visualização direta do interior do útero e pode ser útil na avaliação de pólipos endometriais e outras anormalidades intrauterinas.
- Biópsia endometrial: recomendada em casos de sangramento uterino anormal em mulheres acima de 45 anos ou em mulheres mais jovens com fatores de risco para câncer endometrial.
Tratamento dos Distúrbios Menstruais
O tratamento dos distúrbios menstruais depende da causa subjacente e pode variar desde mudanças no estilo de vida até intervenções cirúrgicas. O objetivo do tratamento é aliviar os sintomas, restaurar o ciclo menstrual normal e tratar quaisquer condições subjacentes.
Mudanças no Estilo de Vida
Em alguns casos, mudanças no estilo de vida, como a redução do estresse, a manutenção de um peso saudável e a prática regular de exercícios físicos, podem ser suficientes para regular o ciclo menstrual. A perda de peso é particularmente importante para mulheres com SOP, já que o excesso de peso pode exacerbar o desequilíbrio hormonal.
Terapia Hormonal
A terapia hormonal é frequentemente usada no tratamento dos distúrbios menstruais. Anticoncepcionais orais combinados (AOCs) são uma opção comum para mulheres com ciclos irregulares, menorragia ou dismenorreia, pois ajudam a regular o ciclo menstrual e reduzir o fluxo menstrual e a dor. Progestagênios isolados também podem ser usados para regular o ciclo menstrual em mulheres com contraindicações ao estrogênio.
Em casos de menorragia ou metrorragia, o DIU liberador de levonorgestrel é uma opção eficaz, pois libera progesterona diretamente no útero, reduzindo o espessamento do endométrio e, consequentemente, o fluxo menstrual.
Intervenções Cirúrgicas
Quando os tratamentos clínicos não são suficientes para controlar os sintomas, podem ser necessárias intervenções cirúrgicas. A histeroscopia pode ser usada para remover pólipos ou aderências endometriais, enquanto a miomectomia é indicada para a remoção de miomas. Em casos mais graves, como na adenomiose ou endometriose resistente ao tratamento clínico, pode ser considerada a histerectomia, que é a remoção total ou parcial do útero.
Os distúrbios menstruais afetam muitas mulheres em diferentes fases da vida e podem ter um impacto significativo na saúde física e emocional. A avaliação criteriosa e o tratamento adequado são fundamentais para melhorar a qualidade de vida das pacientes. É importante que as mulheres busquem atendimento médico ao perceberem alterações no ciclo menstrual, para que a causa subjacente seja identificada e tratada precocemente.